KOMBInados de umas sexta a noite

Em volta do fogão industrial vários médiuns esperam sua vez para ajudarem a preencherem as marmitas, que juntas alimentarão nas ruas de Foz do Iguaçu pessoas marginalizadas e que aos olhos de muitos possuem o dom da invisibilidade social.

J. avisa-nos que assim que completamos 400 unidades, sairemos para as entregas. O que não demora muito para acontecer.

Carros abastecidos, (águas, talheres, guardanapos, pão e principalmente comida, gostosa sempre! "A melhor quentinha da cidade" são nossos clientes que o relatam).

Um dos primeiros lugares que visitamos foi a casa de passagem da cidade. Um fato curioso que se passa nesse lugar é que, eles já nos esperam todas as sextas-feiras no horário aproximado.

O fato que me chama a atenção é que, basta tirarmos as marmitas das caixas para elas serem imediatamente, distribuídas para os seus moradores. Quando já voltava para o carro, pude ver um senhor, que comia com vontade, ao meu ver, sorriu. Pude neste momento sentir a materialização da felicidade em um sorriso.

O segundo foi um galpão de reciclagem que descobrimos que fora derrubado no mesmo dia, e que alguns moradores estavam morando dentro da Mata, próximo de um rio, receberam as quentinhas com felicidade, mas quem parecia mais feliz era uma cachorrinha. Ela ficava em pé e balançava as patinhas (se tivesse um lugar para chamar de meu, tentaria uma adoção.) Ela por alguns momentos foi a nossa alegria, tive a impressão que ela nos cumprimentava com suas patinhas, mas na minha interpretação o mais coerente foi pensar que também pedia por comida.

O terceiro lugar que fomos fazer a entrega foi sem dúvidas o mais surpreendente. E é este que vou relatar logo abaixo:

Costumo pensar que o barulho da Kombi (Muito característico por sinal), já seja o kombinado para mais do que saciar a fome de alguém, mas também conversar com alguém que realmente lhe dê ouvido, escute sua dor, seus anseios, lhe dê realmente direcionamento para sua vida.

Quem poderia imaginar o que poderia ocorrer em uma esquina, embaixo de um toldo velho rasgado? Aconteceu o realmente procurávamos (alguém que realmente precisava de ajuda).

Encostamos o carro rente ao meio fio, como de costume. Deitado em cima de um papelão um jovem pardo, aproximadamente 22 anos, sem camisa, as garrafinhas de Corote denunciavam o inchaço no rosto. Sentou-se já esperando o alimento, mal abriu os olhos, viu uma bela e formosa senhorita de vestido rodado vermelho, camiseta clara, e véu vermelho na cabeça, que lhe estendia uma marmita muito especial (um alimento de cura).

Ele esfregava os olhos, sua mente lhe pregava peças, será que ainda estaria sonhando? Questionava-se no interior, como pode alguém brilhar tanto?

Não se conteve e perguntou:

- Você é um anjo? - perguntou ainda sonolento e alcoolizado.

Uma gargalhada incrível e inesquecível para quem já escutou ecoou por todo o prédio abandonado a frente do local onde o jovem se abrigava.

- Não moço, não somos anjos, somos o pessoal que entrega as marmitas para você todas as sextas-feiras, já se esqueceu de nós?

O deixamos com a marmita na mão, totalmente desnorteado. Em nosso coração fica o desejo que aqueles Corotes sejam os últimos que ele bebeu, e que a partir daquele momento comece a haver transformação no coração daquele jovem rapaz.

Este foi um relato de mais uma entrega de alimentos para as pessoas necessitadas em situação de risco. Nesta história tomei a liberdade literária de dizer que a senhorita 7 nos acompanhou. 

Mas, falando sério ela materialmente não nos acompanhou. Mas, pela nossa fé, ela se fez presente. Tenho comigo que Foz do Iguaçu tem muitas fronteiras. Porém, para nossa senhorita 7, não há nada que a impeça de fazer o necessário para cuidar dos seus e de quem precisa. Para ela não há nenhum limite, seja ele geográfico, carnal ou espiritual. Com ela ao nosso lado o amor sempre estará presente presente.

Texto por: Cleiton 

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